07 setembro 2025


 

A eternidade das férias de outros tempos.

        Hoje chegam ao fim as minhas férias. É curioso como ficamos sempre com a sensação de que não fizemos quase nada daquilo que planeámos. Os dias desaparecem a correr e, quando damos por isso, já é hora de voltar à rotina.

        Este pensamento transporta-me para os meus tempos de infância, quando os verões eram longos, quase intermináveis. Três meses de férias davam para tudo: ajudar os pais e os tios na agricultura, perder-me em brincadeiras com os meus primos e até ter tempo simplesmente para não fazer nada.

        Mesmo com as tarefas que os meus pais me davam para fazer, ainda sobrava tempo para me envolver em mil aventuras com os meus amigos — fosse a explorar caminhos, inventar brincadeiras ou simplesmente deixar a imaginação correr solta. Havia até dias que no final da tarde se juntavam todos para jogar à bola na estrada, crianças e adultos sem pressas e sem carros (quase não existiam) a atrapalhar.

        Mas uma das memórias mais marcantes dessa altura eram os dias passados com os meus primos na praia da Apúlia, onde os meus tios, por motivos de saúde, alugavam sempre uma casa. Lá víamos os sargaceiros sempre muito atarefados na sua faina. Logo de manhã cedo íamos ver os barcos dos pescadores a chegar para comprar peixe fresco e, pelas ruas, espalhava-se o cheirinho do pão quente que saía das várias padarias. Dias mágicos, maravilhosos. Na praia acabávamos sempre por fazer novas amizades de outras paragens, que nos anos seguintes acabávamos por reencontrar. Hoje sinto que fui um verdadeiro sortudo e estou profundamente agradecido por me terem proporcionado esse privilégio.

        O tempo mudou, nós mudámos, mas ficam na memória essas lembranças que continuam a ser um refúgio, um lugar onde o relógio nunca corre depressa demais. Fica a imagem de como a vida já foi mais simples, mais descomplicada e de como o tempo parecia não ter pressa de passar.

18 comentários:

  1. Boas recordações. O passado, pode ser um refúgio agradável, mas se lá passarmos muito tempo, deixamos de viver o presente. : )
    Todavia, concordo que o tempo antes era muito mais lento que agora. Eu, praticamente, passava todas as férias de verão na praia. Quase no fim, estava desejando de regressar às aulas.

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  2. Verdade, as memórias são sempre um refúgio.

    O tempo , enfim... não deixa de se mover.

    O desenho é lindo.

    Abraço, boa semana.

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  3. Três meses de férias grandes em que chegávamos ao final com saudades da escola, das amigas e de aprender novas matérias.
    O que eu mais gostava era do tempo que passava no Monte da minha calma e paciente Tia Ana. O pior vinha ao chegar o anoitecer e me trazia aquela estranha melancolia... :(

    Se me permite, gostaria de saber se os desenhos a carvão(?) com que ilustra as suas bonitas Crónicas, são de sua autoria...
    Boa semana!

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    1. Também sou daqueles que a chegada da noite me transmite um certo desalento.
      Sim, são "rabiscos" a carvão que faço para "colorir" as minhas "estórias" :)
      Boa semana.

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    2. Modéstia da sua parte. Os desenhos denotam mão de Mestre.
      👍

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Ao ler o seu belo texto revi a minha infância. As minhas férias eram passadas no Alentejo, terra dos meus pais, eram tempos mágicos, de muita brincadeira e alegria. Realmente o tempo parecia não ter pressa para passar e dava para fazermos tudo.
    Muito bonito o desenho que acompanha o texto.
    Um grande abraço

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  6. Muito obrigado pela visita e pelas palavras elogiosas.
    O objetivo deste meu blog é reviver as minhas memórias e com isso despertar boas sensações em quem as lê.
    Abraço.

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  7. Dentro de uma semana começam as minhas.
    Aí em Portugal.
    E com imensas tarefas de apoio à minha mãe e à minha irmã que me esperam.
    Um abraço, bfds

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    1. Que sejam umas boas férias.
      Certamente vai estar rodeado de boas energias!
      Abraço e bfds.

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  8. Olá, R.Correia
    O tempo não tinha pressa, tem razão.
    Hoje com a Tv, os telemóveis, e as aplicações todas
    que temos não há tempo para muito. Falo por mim:
    às vezes digo a mim própria "Não devias estar a ler
    os livros que tens aí na estante?"
    Gostei muito de ler a sua crónica.
    Abraço
    Olinda

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  9. Que belas memórias.
    Penso que todos temos da infância e da adolescência essa sensação de tempo feliz e alargado.

    Abraço

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    1. Memórias que devemos visitar de vez em quando para recarregar nossos sorrisos!
      Abraço.

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