18 dezembro 2025


Um conto de Natal


(primeira parte)

                            Era uma vez um menino chamado Tomás que vivia numa aldeia pequena e antiga, escondida entre montes e pinhais, onde o vento trazia o cheiro da terra molhada e o som longínquo dos sinos ao entardecer. O mundo de Tomás era simples e cheio de pequenos encantos. O fumegar do vapor da sopa a subir da panela, o chiar da lenha na lareira, o bater ritmado do relógio da sala marcando o passar lento das horas. O pai era emigrante em França e ele vivia com a mãe em casa dos avós, rodeado de amor e da serenidade que só as casas antigas conhecem, aquelas onde o tempo parece andar devagar, como se tivesse medo de perturbar a paz das coisas boas.

            O seu primo João era o companheiro de todas as aventuras. Os dois inseparáveis como dois pássaros que voam juntos sem precisar de mapa. Os melhores amigos. Corriam pelos campos, subiam às árvores em busca de ninhos, faziam cabanas de ramos, e nos dias de chuva inventavam mundos dentro de casa, entre baús cheios de mistérios e utensílios antigos. Quando chegava o Natal, o coração de Tomás batia mais depressa. Era a época das luzes, do cheiro a canela e da magia que enchia o ar.

            Todos os anos, ele e João construíam o presépio com um cuidado quase sagrado. O musgo era procurado com paciência, como quem recolhe pedacinhos de sonhos. Cada figura tinha o seu lugar. Os pastores junto ao rebanho, os Reis Magos a caminho da estrela, e o Menino Jesus, adormecido no centro de tudo, com o sorriso de quem sabe um segredo bonito sobre o mundo. Tomás acreditava profundamente naquela história. Para ele, o Natal era mais do que uma festa, era um milagre.

            Mas naquele ano, algo começou a mudar. Tinha acabado de entrar naquele mundo novo que era a escola. Entre os risos dos colegas mais velhos, ouviu pela primeira vez palavras que lhe soaram como murros no estomago:

            - “O Menino Jesus não existe. As prendas são os pais que as compram.”

            Tomás ficou em silêncio. Quis acreditar que não era verdade, mas a dúvida instalou-se no seu coração como uma sombra que não se consegue afastar.
— “Como é que um bebé pode visitar todas as casas numa só noite?” — diziam, os mais velhos em tom de gozo.

            Durante dias, aquelas vozes ecoaram-lhe na alma. À noite, deitado na cama, olhava o presépio e perguntava baixinho:
            — “És mesmo tu, Menino Jesus, quem traz as prendas?”
            Mas o silêncio parecia mais fundo do que nunca. E o brilho das luzes piscava como se o próprio presépio hesitasse em responder.

            As férias chegaram e a aldeia vestiu-se de Natal. O ar enchia-se de cheiro a pinheiro, canela e açúcar, e as janelas iluminavam-se de dourado. As mães cozinhavam, os pais traziam lenha, e os avós contavam histórias que misturavam o passado com a fé. Tomás, porém, sentia o coração inquieto. Queria acreditar, mas já não sabia em quê.

            Numa tarde fria, enquanto ele e o primo procuravam musgo e a árvore no monte, uma ideia nasceu-lhe no pensamento, clara como um sino. Estava decidido, iria testar o Menino Jesus! Nesse mesmo dia contou à mãe que iria pedir ao Menino Jesus um conjunto de bonecos que tinha visto na mostra da Vila, mas guardou para si o verdadeiro plano.

                                                                                                     (continua...muito brevemente)
 

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