Um conto de Natal
(primeira parte)
Era uma vez
um menino chamado Tomás que vivia numa aldeia pequena e antiga, escondida entre
montes e pinhais, onde o vento trazia o cheiro da terra molhada e o som
longínquo dos sinos ao entardecer. O mundo de Tomás era simples e cheio de
pequenos encantos. O fumegar do vapor da sopa a subir da panela, o chiar da
lenha na lareira,
o bater ritmado do relógio da sala marcando o passar lento das horas. O pai era emigrante em França e ele
vivia com a mãe em casa dos avós, rodeado de amor e da serenidade que só as
casas antigas conhecem, aquelas onde o tempo parece andar devagar, como se
tivesse medo de perturbar a paz das coisas boas.
O seu primo
João era o companheiro de todas as aventuras. Os dois inseparáveis como dois
pássaros que voam juntos sem precisar de mapa. Os melhores amigos. Corriam
pelos campos, subiam às árvores em busca de ninhos, faziam cabanas de ramos, e
nos dias de chuva inventavam mundos dentro de casa, entre baús cheios de
mistérios e utensílios antigos. Quando chegava o Natal, o coração de Tomás
batia mais depressa. Era a época das luzes, do cheiro a canela e da magia que
enchia o ar.
Todos os
anos, ele e João construíam o presépio com um cuidado quase sagrado. O musgo
era procurado com paciência, como quem recolhe pedacinhos de sonhos. Cada
figura tinha o seu lugar. Os pastores junto ao rebanho, os Reis Magos a caminho
da estrela, e o Menino Jesus, adormecido no centro de tudo, com o sorriso de
quem sabe um segredo bonito sobre o mundo. Tomás acreditava profundamente
naquela história. Para ele, o Natal era mais do que uma festa, era um milagre.
Mas naquele
ano, algo começou a mudar. Tinha acabado de entrar naquele mundo novo que era a
escola. Entre os risos dos colegas mais velhos, ouviu pela primeira vez
palavras que lhe soaram como murros no estomago:
- “O Menino
Jesus não existe. As prendas são os pais que as compram.”
As férias
chegaram e a aldeia vestiu-se de Natal. O ar enchia-se de cheiro a pinheiro,
canela e açúcar, e as janelas iluminavam-se de dourado. As mães cozinhavam, os
pais traziam lenha, e os avós contavam histórias que misturavam o passado com a
fé. Tomás, porém, sentia o coração inquieto. Queria acreditar, mas já não sabia
em quê.
Numa tarde
fria, enquanto ele e o primo procuravam musgo e a árvore no monte, uma ideia
nasceu-lhe no pensamento, clara como um sino. Estava decidido, iria testar o
Menino Jesus! Nesse mesmo dia contou à mãe que iria pedir ao Menino Jesus um
conjunto de bonecos que tinha visto na mostra da Vila, mas guardou para si o
verdadeiro plano.
(continua...muito brevemente)

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