01 agosto 2025

 

       Camilo Castelo Branco eternizou a minha terra!   

        Há lugares que carregam em si memórias, guardam estórias que desafiam o tempo. Creixomil, freguesia do concelho de Barcelos onde nasci, é um desses lugares. Pequena para uns, desconhecida para muitos é para mim um pedaço de mundo onde palpitam memórias, identidade e até…literatura! Trago hoje aqui, com sentimento de grande orgulho, uma das histórias narradas por Camilo Castelo Branco no seu livro Noites de Insónia capítulo “Voltas ao Mundo”. Um dos maiores nomes da literatura portuguesa, que este ano comemoramos os 200 anos do seu nascimento, menciona a minha pequena aldeia num dos seus livros! Não como cenário de passagem mas como palco principal de um episódio carregado de emoção e simbolismo.

           Estávamos no reinado de D. João III e segundo narra Camilo, Ayres Ferreira, um Senhor da casa de Cavalleiros que morava em Barcelos sentindo-se ofendido na sua honra pelo Abade de Creixomil escreveu ao seu filho primogénito que foi servir para a India, onde “grangeara fama”: “… Ruy Ferreira de Mendonça recebeu em Goa carta de seu pai (…) contava que o abbade de Creixomil, clérigo fidalgo e possante, ousara pôr-lhe as mãos nas barbas. Ruy sahiu com a carta de seu pai em demanda do vice-rei a pedir-lhe licença para vir ao reino.” Movido de um só propósito: vingar a honra de seu pai, o capitão Ruy Ferreira de Mendonça  atravessou o oceano contrariando ordens superiores s só descansou quando chegou ao Minho.

               (…) S. Thiago de Creixomil, abbadia do então chamado Couto de Fragoso, termo de Barcellos. Ali vivia o clérigo que affrontara Ayres Ferreira.

               Ruy, antes de se avistar com o pai, bateu á porta do abbade, e enviou-lhe o seu nome. O fidalgo tonsurado desceu ao recio da sua residência, empunhando a espada de cavaleiro. (…) Travaram-se os dous gládios; mas que prelio tão desigual entre o guerreiro experimentado e o fidalgo que sabia apenas a esgrima de curioso! Á volta de poucos botes, o abbade de Creixomil cahiu traspassado do peito ás costas, ouvindo estas vozes frementes de odio:

               - Perro! Não pozesses as mãos nas barbas de um velho!

               E depois foi beijar a mão a seu pai, com quem se demorou algumas horas, e partiu para não perder a passagem das náos que estavam de vela para a India. (…)

               A narrativa é “camiliana” em todos os sentidos: dramática, intensa com personagens moldados pelo orgulho, pela honra e pelos códigos de uma época em que a palavra de um homem era um bem maior do que o ouro das caravelas. E no centro desta história está Creixomil. Saber que a minha terra natal inspirou Camilo, e foi por ele eternizada, enche-me de orgulho. É como se cada recanto de Creixomil guardasse ainda ecos dessa narrativa intensa. Esta história, rica em simbolismo e profundamente ligada à nossa terra, merece ser contada na nossa escola, para que as novas gerações compreendam que vivem num lugar que é mencionado na literatura portuguesa. Seria justo que nós, gentes de Creixomil, a homenageássemos, não apenas como curiosidade histórica, mas como parte integrante do nosso património cultural e identitário.


2 comentários:

  1. Na altura da comemoração do Bicentenário do nascimento de Camilo Castelo Branco, fiz uma publicação sobre ele. Agora, estou a preparar uma sobre Ana Plácido. Deve sair nesta semana.
    Abraço.
    Olinda

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    1. Olá Olinda. Vou estar atento a essa publicação e vou procurar a que fez sobre Camilo Castelo Branco.
      Abraço.

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