20 julho 2025

Ainda moro lá …

      A porta da casa onde nasci, ou o “Portal” como lhe chamávamos, não era apenas madeira. Era o início de tudo. 
     Gasta pelo tempo, com marcas do sol, da chuva e das muitas mãos que a empurraram. 
     Quando se abria era vida que entrava. Tinha um som único, que reconheceria de olhos fechados. 
     Aquela porta era o coração da casa. Era por ali que entravam os tios e os primos aos domingos à tarde, trazendo gargalhadas, mil e uma brincadeiras e longas conversar que se estendiam até o sol cair. Do lado de dentro, a cozinha enchia-se de vozes, enquanto nós, as crianças, corríamos pelo quintal, vivendo aventuras, tropeçando em sonhos.     
     Aquela porta viu partidas choradas, voltas felizes e deu entrada a uma infância cheia de vida. Foi fronteira e foi abrigo. 
     Ainda que hoje more longe, carrego esse umbral dentro de mim, como quem nunca saiu dali de verdade. 
     Quando penso em casa, penso nela, guardiã silenciosa de tudo o que nos fez Família. Agora está fechada, sempre fechada mas eu ainda moro lá dentro!

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