A porta da casa onde nasci, ou o “Portal” como lhe chamávamos,
não era apenas madeira. Era o início de tudo. Gasta pelo tempo, com marcas do
sol, da chuva e das muitas mãos que a empurraram. Quando se abria era vida que entrava.
Tinha um som único, que reconheceria de olhos fechados. Aquela porta era o coração
da casa. Era por ali que entravam os tios e os primos aos domingos à tarde,
trazendo gargalhadas, mil e uma brincadeiras e longas conversar que se
estendiam até o sol cair. Do lado de dentro, a cozinha enchia-se de vozes,
enquanto nós, as crianças, corríamos pelo quintal, vivendo aventuras,
tropeçando em sonhos. Aquela porta viu partidas choradas, voltas felizes e deu
entrada a uma infância cheia de vida. Foi fronteira e foi abrigo. Ainda que
hoje more longe, carrego esse umbral dentro de mim, como quem nunca saiu dali
de verdade. Quando penso em casa, penso nela, guardiã silenciosa de tudo o que
nos fez Família. Agora está fechada, sempre fechada mas eu ainda moro lá
dentro!
Passa a ter um seguidor a partir de Macau
ResponderEliminarMuito Obrigado.
Eliminar